domingo, 10 de junho de 2018

HISTÓRIAS DE LAMPIÃO

Lampião

Foram muitas as histórias de Lampião, que ouvimos contar. Do mais engraçado caso, ao mais estúpido e pavoroso até. O fato é que, bastava correr a noticia que o rei do cangaço se encontrava na região com sua tropa, que a população, atemorizada, fugia sem destino, abandonando suas casas, suas roças; os animais ficando soltos, fugiam também abandonados, sendo muitos deles roubados pelos aproveitadores da situação.


As crianças cresciam amedrontadas, carregando essas tristes lembranças. Recorda muitas vezes, Josias que reside em São Paulo. Muitos e muitos foram os prejuízos, com a perda de objetos valiosos que as pessoas trocavam ou vendiam por qualquer preço, pois o que menos desejavam, é que viesse cair nas mãos dos cangaceiros, também não querendo, por nada deste mundo, presenciar a chegada deles.

Também ouvimos contar, dos mais antigos, que grandes fortunas eram enterradas em esconderijos por medrosos fazendeiros e, quando esses ricos senhores morriam, logo começavam a aparecer visagens aos vivos ou em sonho e  lhes era revelado onde se encontravam os tesouros guardados.

Acredita-se que os ciganos, frequentadores dessas terras, foram os que mais  lucraram na história. Por esta razão, é que vemos todos eles cobertos de ouro: cordões, argolas, relógios, braceletes, anéis, e os seus dentes, de puro ouro. Foram muitos os casos como o de Dona Maria do Cabelo Velho, como era conhecida. Ela nos contava que se desfez de um baú cheio de joias preciosas que herdara da sua mãe Joana.

Dona Edésia, conhecida de todos, morava à Rua 25 de Abril, até seus últimos dias, sempre nos contava essas histórias, quando estávamos reunidas no Conviver. Ela jamais se esqueceu de quando era noiva do seu  já falecido esposo, José Redondo, que ganhara da sua madrinha um par de calçados, de Vila Nova da Rainha, presente do seu casamento. Porém, quantas vezes, ela ouvia dizer que “lá vem Lampião”, também, tantas vezes, ela partia correndo, levando o seu presente de estimação, debaixo do braço. O pior de tudo, é que ela acabou ficando sem o seu belo par de sapatos brancos, que guardava com tanto carinho!

MAS NÃO ERA O LAMPIÃO?

Outros acontecimentos muito engraçados se deram, quando o Senhor Manoel Inocêncio, conhecido na região, resolveu casar-se pela segunda vez, pois havia ficado viúvo. A cerimônia do casamento foi realizada na vizinha cidade de Saúde, onde a noiva residia, de modo que, somente os parentes mais próximos e amigos íntimos dos noivos foram em comitiva assistir ao ato religioso, porque a festa do casamento, seria realizada em Caldeirão Grande, onde o casal passaria a morar, à rua da Matriz, na casa onde atualmente reside o Senhor Amado e família.

Tudo fora preparado com muita pompa e fartura de vinho e comida, A noiva chegou mais cedo, acompanhada de gente fidalga, trajados à rigor, os homens com ternos elegantes, as mulheres nas mais finas sedas da época. A noiva usava um belo vestido branco de cetim e organza, com enorme cauda, enfeitado de vidrilhos e lantejoulas, seu longo véu, preso à grinalda de flores de laranjeiras, que as damas de honra seguraram cuidadosamente.

Todos aguardavam ansiosos, na praça colorida de bandeirolas com barraquinhas de doces e quermesse. Uma banda musical já tocava uma marchinha animada... De repente, ouviu-se um grito de clamor, entre as pessoas que lotavam o local: Lá vem Lampião, corram todos, depressa, sua tropa se aproxima... troc... plac... troc... plac...

Homens, mulheres, crianças, partiram apavorados na tentativa de fuga, outros se trancavam nas casas... E o coroinha que conseguiu esconder-se na torre da Igreja, observava do alto toda confusão. Instantes depois, o silêncio pairava sobre a rua deserta. Agora, ele mais assustado, tremia tanto, ao ponto de despencar-se desastradamente, da grande altura, não acreditava no que via. O tropel dos cavalos troc... plac... troc... plac... a se aproximar. Finalmente chegam. Mas não era mesmo o Lampião e sua gente que ele via. Era o noivo e sua comitiva que acabava de chegar.

E sempre lembrava meu avô: “Ah, é como se eu estivesse vendo e ouvindo as vozes apavoradas de todos. Quantas e quantas vezes eu chegava da roça, me dirigia à calçada de Igreja e encontrava as casas abandonadas por seus donos, eu saia fechando à cada uma porta, janela...".

A verdade é que o “Rei do Cangaço” nunca entrou em Caldeirão Grande.”

ENTRADA DE LAMPIÃO EM QUEIMADAS

Virgulino Ferreira da Silva, o imbatível rei do cangaço, chega de surpresa em Queimadas, no dia 22 de dezembro de 1929, saltou do caminhão com doze cabras, à margem da Estação Leste Brasileira e atravessou o Rio do Itapicuru, que trasbordava, numa canoa, a seguir, cortou os fios da Rede Telegráfica e, apesar da população apavorada, ninguém abandonou suas casas.

Lampião e sua tropa dirigiram-se ao quartel, surpreenderam um soldado cochilando, um sargento deitado na rede, o comandante daquele destacamento e os praças que jogavam gamão. Imediatamente, ordenou que soltassem os presos e a três silvos de apito, mandou que reunissem sete praças, pegando deles todas as armas e munições.
Foto: O prédio a esquerda
é a delegacia
onde Lampião e seu grupo 
matou os 7 soldados.

Devido a grosseria de um dos policiais, três dos cabras, Luís Pedro, José Baiano e Volta Seca, apunhalava-os com golpes de misericórdia, até vitimá-los a tiros. Após terem saqueado o pequeno comércio local, foram à casa do Juiz de Direito, onde comeram , beberam à vontade e dançaram forró, durante a tarde toda. Em seguida chegaram à Prefeitura da cidade, onde a festa rolou até o dia amanhecer.

Aconteceu que Lampião encantou-se com o belíssimo anel de brilhantes a luzir no dedo de Dona Santinha, esposa de um dono de alfaiataria, onde fez refeição, foi bem tratado e recebeu a valiosa joia de presente. O fato é que a senhora Santinha lhe fez o pedido de poupar a vida do Sargento Evaristo, conhecido por boa gente, Lampião assim o fez, atendeu a esse pedido, além do mais ele era homem de palavra e sabia dar sempre na mesma medida que recebia.

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