Ah! Se me lembro e quanto, do caminho que seguia de casa para a Escola... Primeiro não tinha outro jeito senão passar pelo beco de D. Clotilde. Sentia arrepios de medo, pois naquela época, por ali é que seguia o trajeto dos cortejos fúnebres, da Igreja para o cemitério situado onde hoje é a Praça da Saudade.
Passava por uma vereda interrompida por barrocas, ora matos, uma casa ali outra acolá, um ouricurizeiro, malvas, uns pés de eucalipto. Algumas vezes, fugia assustada, surpreendida pela presença de alguma cobra no caminho. Logo me distraia com as borboletas que voavam baixinho, roçavam o meu rosto como querendo brincar comigo... Fugiam e eu corria para alcançar. E elas se misturavam às flores do campo, amarelas, azuis, brancas, vermelhas... Acabava colhendo cada uma delas e de posse do belo e colorido buquê, seguia bem depressa, para entregar à professora.
No mês de maio é bem maior as espécies e quantidades das flores e folhagens. As chuvas de inverno garantiam o seu frescor, tornando-as mais viçosas, assim nas noites marianas, o altar da igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro estava sempre bem florido e ornamentado, espalhando o mais suave olor. As crianças muito contentes, algumas vestidas de anjo, outras se uniam aos pares trazendo seus belos e perfumados ramos às mãos, dirigiam-se a Nossa Senhora com muita graça e fervor, ofereciam a Virgem as suas ofertas... Cantando:
Nesta noite tão linda,Vimos cantar a Maria,Com belas flores no seu altarQueremos ornamentar!
Todos aguardavam com grande ansiedade pelo momento mais emocionante e esperado do mês mariano, a sublime coroação de Nossa Senhora, sempre feita por uma menina que permanecia imóvel por muito tempo, sobre o altar, segurando uma brilhante coroa em suas mãos, que entre os aplausos fervorosos dos devotos, cantava à medida que depositava a belíssima grinalda sobre a cabeça de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padroeira da cidade de Caldeirão Grande, onde permanecia colocada sempre ao centro do majestoso e antigo altar.
Lígia, Acirene, Perpétua Gama, Judice, Dedete, Lita, Stela, Eliane, Maristela, Carmem e outras. Como várias meninas da época, eu participei desses acontecimentos memoráveis. Também recorda a Professora Ofélia Ferreira, quando aluna da Professora Alaíde, que por muitas vezes, sua mãe, D. Dina a preparou com todo esmero, para essa apresentação, a mais pura e feliz emoção vivida na infância.
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