quarta-feira, 13 de junho de 2018

LIVRO MEMÓRIAS
Marinalva Bezerra Santana


SUMÁRIO
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Mas que Saudades – Paulo Machado
Terra do Licuri – Poesia
Dia Especial – Poesia
Memorial a Madrinha Bebé – Poesia                       Histórias Verdadeiras

APRESENTAÇÃO

Caros leitores,

Durante alguns anos, refleti sobre o fato de que Caldeirão Grande não possui nada de escrito sobre a história do seu povo. Movida pelo incontido desejo de descobrir, de conhecer e registrar o quanto antes, relatos, informações, acontecimentos, histórias passadas de geração a geração, afim de que não viessem a perder-se no esquecimento, pois seriam sempre palavras lançadas ao vento. Assim, me comprometi a escrever, tendo a convicção de que a grande tarefa que propus realizar será compensada pela conclusão dessa pequena obra MEMÓRIAS, que coloco à sua disposição e de todos os que amam e lutam pelo engrandecimento da nossa Caldeirão Grande.

Comecei a passar para o papel tudo o que a minha memória pode guardar. As recordações da infância, tempos de escola, as histórias também arquivadas na memória de pessoas idosas e da minha fase. Nessa jornada conversei com colegas, parentes, com amigos da sede, da zona rural, consegui alguns informativos da Diocese de Senhor do Bonfim e da Paróquia de Nossa Senhora da Saúde. Fui às ruas, sentei-me nas calçadas dos moradores, vi e ouvi seus valiosos depoimentos, os fatos, os pensamentos, as opiniões e muito aprendi a respeito da nossa história.

Grande parte dos relatos foram transmitidos através dos meus avós e por Tia Bebé e Tia Zinha, de fundamental importância por tudo que me passaram e pelo que vivenciei com eles. Considerando que “não chegarei a lugar algum, desconhecendo o caminho por onde passei, para saber quem sou eu”.

A história das pessoas, que geralmente denominam ruas, lugares, o jeito de viver, os costumes, as tradições, dão a identidade de nossa gente, evidentemente que a formação do cidadão se dá paralela à história da formação do município. Não existe nome de lugar que não tenha uma explicação; não existe então, povo sem história.

Esse pedaço de chão baiano, também tem a sua história. Caldeirão Grande, “Terra do licurí” dos “Caldeirões de Pedra”, devido sua situação física, climática, as intempéries, os contínuos agravos à natureza, desprovido de fontes de água, de rios ou riachos, o seu povo é castigado pelas secas e grandes estiagens, famílias sofridas pela questão do desemprego, dificuldades e outros fatores.

Caldeirão Grande tem resistido, apesar da incompreensão de alguns, o nosso povo é corajoso, criativo, alegre, muito hospitaleiro e espera que os que muito já fizeram, possa fazer ainda muito mais, tudo o que ela merece que a coloque no devido patamar do cenário estadual, talvez no cenário nacional, para que seus filhos possam orgulhar-se da Terra que os viu nascer e crescer.

Sendo a pequena coletânea, objeto de estudos, estou certa de que novo horizonte descortina-se aos interessados e estudantes, novas fontes de contínuos estudos, servindo às gerações futuras.

Submeto-me efetivamente à avaliação e críticas, antecipando desculpas por possíveis falhas e contradições cometidas.

Com a publicação desse trabalho, o cidadão caldeirãograndense enriquece a sua existência à medida que passa a ter conhecimento dos fatos, acontecimentos, personagens do passado que edificaram a sua história, e sem dúvida, contribuirão com novas informações, que possibilitem referencial de fortalecimento na construção da nossa cidadania. 

DADOS BIOGRÁFICOS DA AUTORA
Marinalva Bezerra Santana

Marinalva Bezerra Santanaa


(PÁGINA EM CONSTRUÇÃO AINDA)

Dados biográficos

Marinalva Bezerra Santana, baiana, natural de Senhor do Bonfim-BA, professora, filha de Paulo José de Santana e de Maria Isabel Bezerra de Santana. Aos dois anos de idade passei a viver em Caldeirão Grande com meus avós maternos e tias. Criada e educada por Tia Zinha, assim conhecida de todos. Com eles tive uma infância feliz e tranquila, em contato com as coisas simples... A natureza a paisagem local, as pessoas e nesse pequeno espaço, naquela época, apenas um povoado, tive a primeira escola, fazendo o curso primário. Aprendi a valorizar as tradições, a religião, a arte. Ainda pequena, gostava de poesias, recitava e criava os meus primeiros versos. Fiz o admissão e o ginasial no Colégio das Sacramentinas de Senhor do Bonfim, concluindo o curso de Magistério em 1967, no Centro Educacional Alfredo Dutra, em Itapetinga-Bahia, onde experimentei o teatro, a novela, atuando na primeira novela levada ao ar na emissora de rádio daquela cidade.

Casando em 1969 com Clóvis de Oliveira, que faleceu em 2002, tive três filhos, nascidos em Salvador-BA: Clóvis Filho falecido em 1994, aos 24 anos de idade, Lucila e Erbet, residentes neste município de Caldeirão Grande.

Assumi o Magistério Público durante 38 anos, na regência de classe, como diretora, vice-diretora e Coordenadora Estadual de Educação. Trabalhando com crianças, jovens e adultos e na habilitação dos professores leigos, quando Técnica do Órgão Municipal da Educação. Participei da organização das Comunidades, nas conquistas do homem do campo pela posse da terra e criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caldeirão Grande. Atuei na Pastoral de Jovens e Adultos, nas festas tradicionais e comemorações do município.

Convivi com as pessoas da Terceira Idade, através do Projeto Conviver por dez anos aproximadamente, promovendo atividades de lazer, de integração à comunidade, de trabalhos artesanais e na valorização das tradições e costumes locais. Assumi a Secretaria Municipal de Educação deste município de Caldeirão Grande, de junho de 1997 a setembro de 2004. Ao longo do tempo, tenho escrito poesias, contos populares e religiosos, resgatando a história da região, dos antepassados, do lugar onde vivo, onde também nasceram meus netos, de tudo que amo e respiro. É o que retrata o livro de poesias publicado em 1999, VIDA, PERFIL E TERRA;  MEMÓRIAS, publicado em 2010 e NOVAS POESIAS, em 2015.

Encontra-se em conclusão os seguintes trabalhos literários: O SENHOR ME FALA – Poesias;  BORBOLETAS – Poesias e MEMÓRIAS DA BOCA DO POVO  (folclore).

Atualmente, faço parte do Dicionário de Autores Baianos publicado pela Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia. 

P R E F Á C I O

As realizações sempre são impulsionadas pelos sonhos. E os sonhos?! Esses são sonhados e corremos na busca de suas realizações. E nessa corrida, com bastante propriedade, a escritora Marinalva B. Santana, realiza não apenas o seu sonho, mas o sonho de cada cidadão caldeirãograndense. A obra MEMÓRIAS tem o propósito de resgatar o trajeto da nossa história, ou parte desta; o desenvolvimento e crescimento sócio cultural de Caldeirão Grande e também dar ênfase às contribuições de nossas personalidades nas diversas épocas da vida desta linda cidade.

Embrenhando-se em fatos, estórias, documentários e depoimentos, gradativamente, de maneira explícita, verdadeira, cômica, quimérica e poetizada, nossa historiadora enaltece os feitos e contribuições de pessoas que doaram e doam a força física, intelectual, cultural e empreendedora para nossa terra natal. Com isso, busca deixar o registro para as gerações vindouras de que temos uma história.

Obviamente, com a diversidade de indivíduos que formaram e formam nossa sociedade, é inviável transcrever em apenas um livro todos os destaques e fatos ocorridos em mais de um século de história.

MEMÓRIAS, definitivamente não é uma obra acabada. Tampouco, uma autobiografia. É sim, a biografia de um povo que bravamente impôs seu ritmo, cultura, desenvolvimento, sua alegria, sua luta e sua identidade. Talvez por isso, fica aqui, não um apelo, mas o sonho de um novo “Memórias...” ou outros autores com relatos que venham a complementar e dar maior riqueza à nossa história.

Inestimável será o préstimo desta obra aqui comentada, para a realização de estudos futuros, na compreensão do presente e o registro de um passado glorioso. Quando houverem de, em algum tempo adiante, mencionarem qualquer relato referente ou na história de Caldeirão Grande, MEMÓRIAS estará, certamente, ocupando lugar de destaque, a bem da verdade, merecidamente. Por causa do pioneirismo na literatura caldeirãograndense, os registros de Marinalva B. Santana, encerra o período de obscuridade que até então existia sobre nós e abre a fase de conhecimentos que só fortalecem os nossos laços de comunidade e cidadania no âmbito da nossa Caldeirão Grande. Fazer a descrição dos conteúdos deste livro torna-se desnecessário nesse momento pelo fato de que, o propósito dos mesmos é causar curiosidades, interesses, prazeres e sobretudo conhecimentos da nossa terra. E, comentá-los agora, tiraria todo o afã do meu caro leitor e leitora. Sugiro apenas que, leia, assimile, saboreie, viaje, alegre-se, emocione-se e viva de forma intensa, na narrativa épica e poética da autora.

MEMÓRIAS traz nos seus relatos o encanto e paz do fim das tardes da Praça da Matriz, nos remonta aos tradicionais lugares da cidade:Rua do Galo, do Pó, da Areia, da Palha, do Facão, Mata-Bicho e outros que marcaram a nossa história. Mostra-nos a poesia encravada nas mais diversas paisagens de suas ruas, praças e personagens.

“MEMÓRIAS” sintetiza a luta e a garra de um povo ordeiro, hospitaleiro, sonhador e que crê na transformação das pessoas para construção de dias melhores para Caldeirão Grande.

Esta Obra enriquece muito nossa cultura e traz farta fonte para estudos e pesquisas da história em âmbito local e regional.

O leitor de “MEMÓRIAS”, a cada relato, terá também identificada uma história sua vivenciada com as pessoas e fatos aqui tratados ou com outros; e será esse o motivo que tornará a leitura desse livro uma viagem prazerosa.

À autora tenho a dizer: tudo que for escrito ou falado sobre “MEMÓRIAS” é pouco para a grandeza e o significado que esta obra representa para Caldeirão Grande e seus filhos de ontem, hoje e amanhã. Muito é o desejo de sucessos de “MEMÓRIAS” porque você merece e Caldeirão Grande também.

Joevan Gonçalves

MOMENTO SUBLIME


É verão, em dezembro de 2001. À tardinha de calor insuportável, após um dia exaustivo de trabalho, procurei deleitar-me e fui aliviar as tensões dirigindo-me à frente de nossa casa e num só olhar, contemplei toda a rua, o céu de azul acinzentado, ainda com muitas nuvens brancas e escuras. Alguns pássaros seguiam em revoada, procurando seus abrigos, outros voavam cantando em busca dos seus ninhos entre os galhos das enormes árvores.
A cantiga das cigarras e dos grilos formava uma rara melodia. Comecei a andar bem devagar, com passos leves, enquanto o meu rosto absorvia o frescor da brisa, provocado pelo ligeiro vento que soprava, deixando cair algumas folhas das algarobas e amendoeiras da sombria e tranquila Rua da Matriz.
Sentar-me no banco da praça, não é privilégio de todos os dias; por isso, sempre que posso, desfruto desse instante calmo e sublime, em que parece, até que a terra inteira num brinde à natureza agradece ao Criador, pela belíssima hora do crepúsculo.
Ouço as últimas badaladas do sino da Igreja matriz, ao som da suave e comovente música da AVE MARIA... E como em um videotape na rapidez de um tufão, transporto-me aos tempos de criança e curvando os joelhos, juntando minhas mãos, em silêncio rezo...
O Anjo do Senhor anunciou a Maria,E ela concebeu do Espírito Santo.
Ave Maria cheia de Graça...
Eis aqui a serva do Senhor.Faça-se em mim segundo a vossa palavra.
Ave Maria...
E o Verbo se fez carneE habitou entre nós.
Ave Maria...

terça-feira, 12 de junho de 2018

REVIVENDO


Erguendo-me, a seguir procurei aproveitar um pouco mais do fantástico momento, apreciando os matizes das cores do céu. Ao desaparecerem os últimos raios do sol, que com certeza, para quem dá as mãos à natureza, nessa hora sublime do ocaso, pode encontrar a paz e harmonia necessárias para tocar à frente a vida repleta de problemas e desencontros.

Tento a todo custo, alcançar a visão do horizonte, infelizmente, devido ao espaço vazio que restou da antiga casa do conhecido Seu Macário, tendo sido esta demolida, porém eternizada em tela a óleo, por nosso talentoso pintor Juarez Soares, que a reconstruiu em desenho para que não a perdêssemos da memória e por fazer parte do nosso patrimônio histórico.
Antigo Casarão, na Rua  da Matriz, residência do Sr. Macário
Tela a óleo do pintor caldeirãograndense Juarez Soares Pereira.
(foto: Hok Pay)
A tarde vai morrendo e as estrelas, uma por uma, vão pontilhando a imensidão do infinito; cintilam no céu, numa faustosa saudação à noite que finalmente chega. E de onde me encontro dá para contemplar toda a rua, suas casas enfileiradas com as portas e janelas abertas, de onde exala um cheiro forte de café. Certamente, muitos estão ligados à novela das seis ou reunidos em família. Alguns estão voltando do trabalho, enquanto que outros seguem para a escola da noite.

Chegando até a casa junto à Igreja, a esta hora, encontrará Tia Bebé e Tia Zinha em fervorosa oração, momento da benção da água do padre Alberto, pela televisão. Elas, habitualmente, têm horário para o terço, rosário, ladainhas, jaculatórias, trezenas e novenas, recitadas tudo de cor, gravado na memória, rezando por tudo e por todos, pela paz do mundo inteiro, pelos vivos e pelos que já se foram; este é o exercício de devoção diário e quando se trata de dia santificado, o fervor se estende pelo dia inteiro.

Normalmente, elas costumam dividir bom espaço de tempo, mantendo-se sempre ocupadas com o feitio de bordados, ponto de cruz, bainha aberta, tapetes, almofadas, trabalhos em retalhos e fuxicos, sem falar na culinária, que pode existir igual a delas, porém melhor, não há: num doce de leite, sequilhos, bolos, requeijão, uma galinha...

Chegando lá, somos envolvidos pela brisa suave do jardim bem cuidado, pela beleza e frescor perfumado das folhagens e das flores de colorido diverso.

A casa enorme de amplo corredor, com suas inúmeras janelas voltadas para a belíssima vista da Lagoa, ao nascente, formando com a Laje, os caldeirões de pedra, a mais encantadora paisagem. Foi assim construída, junto à Igreja em 1938. Outras foram construídas a partir de 1930, sendo consideradas as primeiras casas que surgiram na Rua da Matriz. E elas também, estão sempre a nos contar de suas infâncias, e nos falam que parece até que foi ontem... Vestidas nos seus roupões, ou melhor, em túnicas até os pés, num único modelo. Pois era assim que se vestiam as meninas e os meninos da sua época do início do século XX. Pois não é que seu pai, o Senhor Piroca, meu avô, costumava trazer de Bonfim de Vila Nova, uma peça inteira de tecido e com esta, a sua mãe, Dona Ermelina, minha avó, vestia a todos e por longo tempo.

As famílias possuíam um grande número de filhos. Era até comum dizer que somente os contavam na hora de dormir ou durante as refeições, quando todos sentados em torno de um grande estrado. Porém havia um detalhe muito interessante: os meninos comiam todos juntos, utilizando-se de uma enorme tigela de louça ou esmaltada; da mesma forma as meninas se alimentavam, todas juntas, porém separadas dos meninos. Convém mencionar que nada há de estranho nisso, já que a discriminação da mulher sempre existiu, sendo inclusive considerada como parte da educação, em tempos passados.

PRIMEIROS TEMPOS DE ESCOLA

É costumeiro, para nós moradores na extremidade da Rua da Matriz, ouvir a algazarra vinda do Largo Antônio Luis, naturalmente são os jogadores de futebol de salão, fazendo seu treino ou estão acontecendo brincadeiras na Quadra Esportiva que recebeu o nome do ex-prefeito Nelson Maia. De lá, ouve-se os gritos da meninada correndo para lá e para cá. Algumas nos balanços outras no escorregador, muitas delas imitando os artistas da TV. Lá está também o meu neto, Clóvis Hernan a gritar todo eufórico: "Vovó! Vovó"! É que as brincadeiras nos tempos de outrora, eram bem diferentes. A garotada brincava de esconde-esconde, EÚ..., boca de forno etc.. Exatamente aqui, onde me encontro bem em frente ao Prédio Rural, a primeira Escola de Caldeirão Grande, é como se estivesse vendo a turma brincando de macacão (amarelinha), pulando corda, e as meninas a cantar roda...
Eu morava na areia, sereia;Me mudei para o sertão, sereia;Aprendi a namorar, sereiaCom um aperto de mão, ô sereia.
O jogo de capitas (com mucunã ou pedrinhas) era muito disputado por todos. Os meninos preferiam jogar gude, castanha e pião. E se o vento soprava numa boa, dava até para soltar pipa na hora do recreio, sem correr riscos ou perigo algum, já que naquela época ainda não havia os fios da energia elétrica.

Nos anos de 1955 e 1956, eu também fazia parte dessa turma animada e cheia de arte, que foram os meus colegas da 2ª e 3ª séries da Escola Rural. Estudamos, brincamos, passamos momentos felizes e inesquecíveis da infância, na companhia das bondosas professoras Nair e Profª. Odete, pelas quais tenho muita estima e gratidão. Porém, é com grande emoção que lhes digo da minha primeira professora, Profª. Eulina. Já vai um pouco distante, mas tudo continua presente nas minhas lembranças... Nas coisas, nos acontecimentos, no trajeto, na sala de aula e sabem, por quê? O fato é que onde aprendi as primeiras letras, é o mesmo local onde, por feliz coincidência, assumi o exercício de professora, por 38 anos, desde o início da minha carreira pública no magistério. 
Turma da quarta série – 1997 com as Profas. Marinalva e
Uilza na Escola Estadual. Prof. Roberto Santos.
A Escola Estadual Professor Roberto Santos é essa escola, onde aprendi muito como aluna; porém aprendi muito mais lecionando, na sala de aula com os meus alunos.
Professoras Dulce, Sueli, Marinalva e Erenilda
na Escola Estadual Prof. Roberto Santos