Dona Luísa era uma velhinha muito bondosa, que residia numa casa simples, da Praça Castro Alves. Ela dizia que apesar dos vários filhos espalhados pelo mundo, Deus não a deixou sozinha.
“Tenho muitos vizinhos... Parecem bons para mim... Tenho a impressão... E essa garotada alegre que me faz sorrir, mas logo virão as férias e sentirei demais, a falta deles”. Pensava ela, porque a Escola fica situada defronte sua casa.
“E seu Moleza, então, que bondade de pessoa, é o meu melhor vizinho! O seu filho Pirinho, nem se fala! Mas, essa minha fraqueza... esse desânimo...”
As más influências, as coisas esquisitas que aparecem à sua porta, a consulta que fez a um “entendido”, lhe dá explicação para essa tristeza, de sentir as coisas, como que só andando para trás... Pensava ela. “Não vou mais à feira, nem à Igreja... Não sei se aguento ir ao banco, pegar o bendito dinheirinho da aposentadoria...”.
Toda a vizinhança a confortava e muito desejava que ela compreendesse o pensamento negativo que a dominava. Porém, os conselhos dos amigos de nada adiantavam para a velha Luísa. As coisas iam de mal a pior. A sua doença... Como se tudo, não bastasse, apareceu no seu quintal um despacho daqueles caprichados: Galinha morta, com farofa, garrafa de cachaça, velas pretas, sem falar no sapo espetado que já era freguês .
- “Cruz! Credo! Agora sim, chegou o meu fim. Mas, vai pagar bem caro, quem fez isso comigo. Eu descubro... Vai vê só, e acabo com ele...”.
E começou logo a reunir fitas daqui, velas dacolá, alfinetes também, uma galinha preta, porque tem mais poder... Precisava acabar de uma vez com o inimigo. “Tudo pronto! Agora é só colocar na encruzilhada! ”
E dirigiu-se à porta da rua. Foi quando o seu Moleza, que só aguardava o momento exato para ajudar a velha amiga, saltou à sua frente armado de coragem e de muita seriedade e bradou com voz firme:
“Fui eu Dona Luísa”!
-“ Mas, meu filho, não acredito, é uma brincadeira... Você, o meu melhor amigo?”
“Sim, eu mesmo, pode crer. Foi o único remédio que encontrei para fazê-la acreditar que a sua doença, não tem nada a ver com essas coisas que aparecem por aí. E continuou...
“O medo e a superstição. Dona Luísa, causa grande impressão tirando o que existe de mais significativo nas pessoas... O gosto de viver”.
Apesar de tudo, Dona Luísa sorria desconfiada, e agradecendo o amigo, gaguejava: “Tudo vai passar... Juro que vou esquecer essa infeliz imaginação! Pedirei muitas forças a Deus, buscarei fé na religião e com certeza, acreditarei em dias melhores!”
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