No dia 29 de Novembro de 1984, os formandos em magistério do Colégio Cenecista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Caldeirão Grande-BA, pediram aos Padres Thomas e Antônio Tamari, às irmãs Zeli e Elvira a igreja católica (o templo) para realizarem a solenidade de formatura. Sendo o pedido negado por esses e pelo Conselho Paroquial. A seguir os formandos foram com seus representantes e alguns parentes ao bispo Dom Jairo que manteve a mesma decisão da Paróquia.
Em busca de uma resposta, os acionados se dirigiram ao Cardeal da Bahia, porém não houve nenhum acordo. A barreira do desentendimento se tornava visível e os rumores se espalhavam de que a Igreja ia ser invadida. Temendo tal fato, pessoas do clero decidiram fechar o templo. Reforçaram suas portas e colocaram um grande cadeado na entrada principal.
Obviamente o fechamento da Igreja causou grande sentimento de desgosto à comunidade, impedidos de realizar o culto de costume.
Aconteceu que no dia 23 de dezembro de 1984, às 19 horas, os formandos, padrinhos e familiares, reuniram-se em frente da igreja, enquanto algumas pessoas com ferramentas apropriadas abriram a entrada lateral, penetraram no prédio e retiraram o cadeado da porta central. Após terem realizado a solenidade, os participantes fecharam novamente todas as portas, deixando como encontraram. O delegado assistiu a tudo e por medida de segurança, colocou um vigia. Após o ocorrido, foram colocados novos cadeados; as portas foram reforçadas e a nível diocesano e paroquial, a igreja ficou fechada por tempo indeterminado, até nova decisão. O caso foi noticiado nos jornais, na revista Veja, no rádio e televisão.
Os considerados invasores do templo receberam uma carta de excomunhão temporária, na maioria pessoas da família Bezerra, de acordo a pena, de um a três anos, pela desobediência a autoridade religiosa da comunidade. Documento esse, expedido pelo bispo Dom Jairo que se sentiu incomodado em recorrer ao Código Canônico e disse: “Foi a primeira vez que utilizei este recurso e espero que seja a última”. (Revista Veja, 10 de abril de 1985, pg. 49). Esta pena recaiu também a menores e a anciãos a quem não tinha nada a ver com o caso, a outros que nem ao menos se encontravam na cidade, por pertencerem à família mencionada. Para as devidas providências foram registradas queixas policiais na Delegacia de Jacobina.
O tempo passava e os católicos insatisfeitos, resolveram abrir a igreja novamente às três e trinta da tarde do dia sete de fevereiro de 1985, alegando ser a família Bezerra a construtora do templo, dele se apossando, fazendo circular uma carta datada de 15 de agosto de 1985, comunicando o fato ao Papa João Paulo II, ao bispo Dom Jairo, a Dom Avelar Brandão Vilela, ao Pároco e às autoridades locais, condicionando a entrega das chaves e a mudança dos padres e das irmãs.
Como não houve acordo, a Diocese levou o caso à justiça que no mês de julho do corrente ano, concedeu-lhe uma liminar de posse e a igreja lhes foi devolvida. A seguir, recorreu-se ao Tribunal da Bahia que devolveu a posse à família responsabilizada na justiça.
O processo continuou e o clero exigia o documento de posse do prédio, coisa que nunca existiu porque ninguém foi o dono dela. O que se sabe é que quando antes da sua reforma em 1982, com a ajuda de uma entidade alemã, o Conselho Paroquial dirigiu um ofício ao prefeito da época, Pedro Bezerra Filho, questionando a situação dominial do templo, sendo por ele informado não haver nenhum dado sobre a propriedade legal da igreja de Caldeirão Grande.
Reveja os capítulos – Começo da História e Origem da Igreja Matriz, deste livro:
A sua história é tão simples, certamente com humildade e compreensão, tudo teria se resolvido. Quando os fariseus e herodianos perguntaram a Jesus, se é lícito ou não pagar o tributo a César, disse então o Mestre: “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” O Reino de Deus não tem dimensão, muitas vezes inatingível aos nossos olhos, daí vem a conclusão: “Quem se contenta com pouco, cuidado porque vem a perder do pouco que tem.” É lamentável que a Igreja Matriz Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Caldeirão Grande, tenha passado pelas mãos de políticos partidários até o julgamento final, numa acirrada disputa pela casa que representa o Templo vivo de Deus edificado aqui na terra. Diz a passagem bíblica: “E o que ligares na Terra ficará ligado nos Céus; e o que desligares na Terra ficará desligado nos Céus”.
Depois de 17 anos de luta na justiça a sua Casa volta para o povo, a quem sempre pertenceu.
É como se eu estivesse vendo Seu Piroca, sentado na calçada da Igreja, a chamar o povo que passava:
“Venham ! Venham Todos !
A Igreja é do Povo! Venham !”
Esse era o grande sonho do meu querido e saudoso avô.
O dia 17 de Março de 2002 ficou marcado com uma festa para a Paróquia Nossa Senhora da Saúde, e especialmente para a Comunidade Católica de Caldeirão Grande, pertencente à Diocese de Senhor do Bonfim. (Jornal Ressurreição e Vida) – 323, março de 2002.
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